domingo, 21 de fevereiro de 2010

Segunda Anotação

Depois de três anos de muito esforço e drama e sofrimento, eu fiz as provas necessárias para ver se eu ia ou não para uma Universidade. As primeiras decepções não demoraram a chegar: Não passei na Estadual, não passei em uma das três Federais, depois não passei em outra Estadual...

É. Foi complicado pra mim. Quando soube que não passei na primeira Estadual, não quis me mexer. Fiquei olhando a lista, aí depois fui me sentar e fiquei lá, olhando o chão. Semimorto, na verdade. Ele me disse para levantar, porque a) Não era o fim do mundo e b) Eu ainda teria as reclassificações e c) Ainda tinha outras universidades... Aí quando eu não respondi pela enésima vez, ele se emputeceu e me deixou lá. Depois, na Federal, eu já estava estóico. Olhei a lista. Não passei. Dei de ombros e fui fazer outra coisa. Na segunda estadual, eu achei que iria me dar bem. Afinal, era algo que eu realmente gostava, não tinha como errar, não é?

Trigésimo quarto de vinte vagas.

Minha motivação caiu por terra.

Comecei a pensar no que iria fazer sem uma Universidade. Arranjar um emprego... Fazer um curso? Estudar por mais um ano? Ele me disse que, caso eu não passasse em nada, eu podia tentar no ano seguinte. Mas me seria muito ruim pensar que eu teria que gastar mais um ano quando podia ir estudar imediatamente...

Por um mês, quase, minha vida passou diante dos meus olhos. Sim, foi em slow-motion. Eu lembrava dos meus colegas de classe dizendo que eu iria passar em tudo. Que eu era inteligente. Que eu era um saco. Que eu competia demais. Que tudo era coisa séria pra mim. Que eu dormia na aula. Lembrei de quando deram as costas para mim e falaram tudo isso em péssimos termos e por isso passei o resto das aulas dormindo em um canto da sala, sem ninguém para ao menos comentar a matéria ou para copiar a resposta porque não tinha tido tempo/energias para a fazer.

Eh...

E ainda tinha ele para me dizer que queria um namorado universitário...

Aí...

Aí tentei de novo para uma Federal, esse ano. A Rural. Cujo principal campus fica no meio da serra e eu precisaria de carona ou uma bicicleta potente ou uma moto para ir, além de que poderia encontrar qualquer coisa naquela mata. Qualquer mesmo. Mas o campus do que eu queria fica só a quarenta minutos da minha casa, então... Por que não?

Esperar... Esperar...

Saiu o resultado. Fui ver a maldita lista.

Um, dois, três nomes...

O meu estava lá.

De começo, minha reação foi calma. "Passei!" Eu pensei, e sorri, e fui com esse sorriso no rosto pra casa. No caminho, encontrei alguns colegas, e eles me perguntavam e eu falava "Passei". No quinto colega de classe, eu já falava "Passei, porra". No décimo, já dava um grito e um pulo, "PASSEI! EU PASSEI NA FEDERAL, PORRA!". Quando estava chegando em casa, já estava rindo e dando pulinhos e griando todas as blasfêmeas que eu conhecia.

Quando o vi, diminuí o sorriso e fiquei tímido.

"Passei numa faculdade."

"É? Qual delas?"

"A Rural."

"Oh! Que bom! Isso é ótimo, na verdade!"

A cada frase, ele ia ficando mais contente. Pagaria bem menos se eu fosse estudar lá, então era um motivo...

Nisso, ele me abraçou e aí todo o escudo emocional quebrou. Primeiro a visão ficou embaçada, depois comecei a soluçar, então, as lágrimas, e eu fiquei chorando feito uma moleca de joelho ralado. Só parei quando notei que quanto mais eu chorava, mais ele me abraçava, e eu já estava ficando todo melado de tanta choradeira e tinha que fazer mais coisas ainda.

Saí de casa e, quando dobrei a primeira esquina, dei de cara com o outro ele. Na verdade, ele veio correndo e deu de cara no meu peito e quase caiu no chão, como sempre fazia. Ajudei-o a levantar e acho que se espantou quando viu que eu ainda estava elétrico e sorridente, gritando "ADIVINHA O QUE ACONTECEU" e coisas do tipo.

A ficha não caiu de começo. Aí levei a mão à testa e falei, "Você não queria um namorado universitário?"

Ao qual ele respondeu, "O quê? Ele passou?"

"Sim! Passei! Numa Federal!"

"Que coisa ótima! Vou ligar para ele agora!" Ele gritou, e deu meia volta.

Eu fiquei plantado lá feito um babaca até que ele deu outra meia volta e veio até mim, sorrindo feito um idiota.

"Desculpa pela piada" Ele disse, segurando a minha mão. "Então você passou mesmo..."

"Foi o que eu disse."

"Nunca te vi tão feliz."

"É. Talvez. Quer ir comer alguma coisa? Eu cozinho hoje."

Claro que minha felicidade não simplesmente caiu assustadoramente de uma hora para a outra. Eu ainda estava animado. Acho que festejei a noite toda, não lembro direito. Só lembro de ter acordado com dor de cabeça e de que, nos dias seguintes, a quantidade de kanjou aumentou muito e eu tive três vezes mais trabalho que o normal...

Oh, bem...

Importa é que consegui, não é?